terça-feira, 17 de novembro de 2009

Passos Perdidos




Escolhi para primeira foto uma de que gosto muito. A preto e branco, evidentemente. Será mais evidente lá para a frente, quando virem que é o género que mais aprecio.
Esta foi um acaso feliz: o rodado da viatura; o homem de escuro, de fato e chapéu na mão; a pedra com a corda a atravessar o caminho dele; o eu estar numa elevação sobre a praia; a luz daquela hora - quase ao fim da tarde; as marcas no areal; tudo se conjugou para uma excelente fotografia.
Depois, os diversos significados que podemos dar à imagem. O título - já a chamei de "Em Busca do Tempo Perdido" - tem a ver com tempo e com perda. Um passo perdido é uma perda de tempo!
A figura é enigmática. Um homem de fato a passear-se pela praia? A caminhar decidido como se tivesse rumo certo? A praia acaba cem metros à frente, numa arriba, só permitindo... o regresso ao mesmo ponto. Não parece um derrotado, um vencido da vida. Porque é que emana dele uma certa melancolia? Sou eu ao ler os sinais que cedo aos meus preconceitos?
É uma foto que não me cansa de olhar. Gosto muito!

2 comentários:

  1. Lendo sob novo ângulo:

    O 2ºtítulo que deu ao seu trabalho "Em Busca do Tempo Perdido" tema em 7 volumes de Marcel Proust onde eu aprendi muita psicologia e que agora já não se lê, onde se faz uma grande viagem, na minha opinião tem tudo a ver com a foto e o que pensou com ela, já que no meu olhar, trata-se de passos achados.
    Este homem podia estar a resgatar o Verão ou os seus tempos de menino.
    Mais que um caminho, uma referência espacial, pode ser este trajecto uma opção de vida (prosaicamente: pode seguir as recomendações do seu médico e caminhar contra o colesterol- brinco).
    Há um encantamento seu por esta fotografia ("second life"?). O protagonista revela aqui as trilhas da sua vida, o quanto é importante elas terem continuidade, como determinantes para o seu futuro.
    Esta personagem desabrochou em si, a memória, a viagem composta de avanços e recuos e admirou-se com tanta segurança no andar, no caminho neste tempo e neste espaço.

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  2. O que vale é que avisas que leste o Proust (os sete volumes!)e que aprendeste psicologia. É um risco que se corre nestas coisas dos blogues. Mostramos/escondemos parte de nós e, o outro, descobre o que julgávamos esquecido.
    Imagino que sim. Que ao ver as personagens que fotografo, acabe por imaginar um percurso que corresponderá mais ao que pretendo do que à possível realidade - que nem interessa para o caso! A realidade seria só um pretexto para eu me olhar? O tal Narciso saltou-me...

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